Será que opinião é como bunda??

Será que opinião é como bunda? Que todos temos, mas nem por isso precisamos mostrar? Tenho feito essa pergunta constantemente a mim mesma, em especial depois de me deparar com comentários de todos os tipos em diferentes postagens pela internet afora - aliás, essa internet afora que muita gente acredita ser terra de ninguém e que, como tal, pode receber de tudo: desde o assassinato da língua portuguesa até mesmo os comentário de pessoas que são completamente leigas nos assuntos em questão, mas que leram "alguma coisa" sobre o tema e se acham não só no direito de emitir uma opinião, mas ainda de colocar o "especialista" no seu devido lugar.

Nessa seara em que a internet se transformou, os leitores de jornais, blogs, redes sociais sentem-se no direito - e até mesmo no dever quase cívico - de emitir uma opinião sobre os assuntos tratados. Na condição de leigos ou mesmo de levemente informados, porém, sentem-se seguros o suficiente para escreverem sobre o que pensam. No entanto, raras são as vezes em que suas opinião fundamentam-se em argumentos sólidos e passíveis de serem discutidos e muitas vezes o que vemos é um festival de impropérios, juízos de valor e "achismos".

Ninguém acha nada, a não ser que tenha perdido algo. Ninguém julga nada, a não ser que sua tarefa seja a de juiz. Nem sempre o que é postado na rede foi posto para ser comentado ou discutido - então, não é porque temos bunda que precisamos mostrá-la. Às vezes a postagem ocorreu apenas porque a pessoa que a fez quis se divertir, ou porque quis dividir uma ideia com o mundo. Mas não quis, necessariamente, debatê-la ou vê-la no meio de uma saraivada de balas.

Tenho me sentido bastante censurada. Não, não há ninguém que me proíba formalmente de escrever. Não corro o risco de ser presa ou morta pelas bobagens que posto, mas não me sinto à vontade para postar tudo aquilo que eu gostaria. Por quê? Acredito que os motivos são vários, assim mesmo, no plural. Seleciono dois, que considero, no momento, os mais fortes.

Em primeiro lugar - e assumindo o lugar mais importante na minha censura - está a decisão de me poupar de incomodações que podem ser evitadas. Parece uma resolução covarde? Pode ser que, na sua opinião, seja mesmo já que me furto das discussões. Mas percebi que acompanhar o festival de achismos, julgamentos e bundas que eram postadas após notícias e textos estavam me fazendo um mal danado. Agitavam-me. Irritavam-me. Tiravam meu sono. Despertavam os piores sentimentos em mim. Pelo bem de minha sanidade, resolvi poupar-me. Então, decidi que não lerei comentários de leitores de jornais, por exemplo, e dei-me o maravilhoso e libertador direito de apagar comentários desagradáveis, idiotas e de provocação bem como  o de bloquear pessoas nas redes sociais. Gente, digo a vocês: é realmente algo libertador.

Em segundo lugar, minha rede social abriga alunos, familiares de alunos e por aí vai. Não tenho problema algum com alguém que possa pensar diferente de mim, mas meu problema é com alguém que não respeita as minhas ideias e as confronta de forma agressiva. Novamente, a preocupação com a minha sanidade venceu, e resolvi que posso me poupar desse tipo de coisa. Não sou politicamente alienada, muito pelo contrário. Mas evito posts políticos porque não quero me estressar, de verdade. Depois que eu, que me graduei em HISTÓRIA, fui corrigir um post idiota que alguém que NÃO ESTUDOU  publicou sobre Cuba à época da morte de Fidel e essa pessoa afirmou que estava certa enquanto eu estava errada, larguei de mão - bem feito para mim, que havia prometido não comentar essas coisas e não me contive. Tomara que eu tenha aprendido!

Discutir com pessoas assim me lembra aqueles desenhos animados onde o personagem enfia um dedo para tapar um buraco na represa e a coisa só piora com a expansão de rachaduras e o inevitável alagamento.



Posso evitar as bundas. Posso evitar os alagamentos. Posso manter minha saúde (física e emocional). Posso bloquear e ser feliz com a convicção cada vez mais forte de que o saudoso Umberto Eco tinha razão: de que as redes sociais deram direito à uma legião de idiotas de falarem. Inclusive eu.





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