As playlists

Há muito e muito tempo, numa galáxia muito distante, escrevi que a minha vida tinha trilha sonora. Ainda tem, no presente. Mas minha vida também gosta de receber e de preparar trilhas sonoras para os outros - e hoje chamamos isso de playlists.

Sempre gostei de selecionar e gravar músicas, tivessem as gravações funções meramente recreativas, tivessem elas funções específicas, como uma despedida. Por volta de 1994 minha melhor amiga da escola partiu para a cidade do Porto, em Portugal, e Joana preparou quatro fitas K7 para me dar na despedida: duas chamadas Os Brutos Também Choram, uma chamada More and Better Blues e a última, I know it's only rock'n roll, but I like it. Tenho essas fitas comigo até hoje, mesmo que não consiga ouvi-las por questões técnicas - eu as tenho porque são uma seleção única, que apenas eu tenho; eu as tenho porque carregam memórias boas; eu as tenho porque um dia, nos idos de 1994, minha melhor amiga dedicou tempo em selecionar músicas que deveriam ficar comigo.

Neste exato momento em que escrevo ouço uma playlist que fiz para uma amiga-irmã que estava passando por um grande perrengue na sua vida. A seleção se chama Playlist da Virada e quando a montei tive a preocupação de selecionar músicas e ritmos que poderiam contar uma história: ela inicia com partidas e tristeza, ganha corpo e movimento e termina como uma celebração da vida. Isso parece muito claro para mim, mas não sei se ficou claro para ela 😆. Espero que sim, que tenha conseguido perceber que a seleção conta uma história - uma história de virada e de novas alegrias.

Minhas seleções musicais recebem títulos, como a do parágrafo anterior, e, portanto, acabam por agregar temáticas e ritmos semelhantes. Ontem ouvia no carro uma seleção que fiz para um amigo estrangeiro, que passou bons e felizes tempos no Brasil, e tinha a finalidade de levar um pouco a leveza e a alegria que ele viveu aqui. Acho que deu certo, já que há um tempo atrás ele me mandou uma mensagem dizendo que o CD que eu havia montado havia adoçado sua manhã.

Mas a montagem de uma seleção não pode ocorrer sob exigência ou pressão. Se alguém me pedir uma cópia de um CD (cópia de segurança, que fique claro 😉) eu a farei rapidamente, mas não me peçam que eu monte uma playlist. Isso ocorre de maneira espontânea, parte de um desejo meu de dar música para alguém . Eu não consigo dar para outra pessoa uma cópia de uma playlist que fiz para alguém porque a seleção que eu montei tem relação com uma história e uma pessoa em especial e, nesse sentido, continua sendo única.

Há mais de um ano uma pessoa para quem fiz uma cópia de um CD me pediu uma seleção musical. Não consigo fazer, e não por falta de tempo ou coisa do gênero, pois quando estou movida pelo desejo de criar uma lista eu dou um jeito. Eu não tenho motivação. Tenho uma pasta no PC com algumas músicas que arrastei para dentro, mas que, para mim, não fazem muito sentido e, assim, sigo procrastinando. Nesse ínterim, no entanto, montei pelo menos mais três seleções musicais que partiram de meu desejo de levar trilha sonora para pessoas que são especiais para mim. E estava ouvindo novamente essas seleções que trazem, também, um pouco de mim e do momento em que estou vivendo ao fazê-las. Talvez, no fundo, eu não queira dividir um pouco de mim que segue nas músicas com qualquer pessoa.


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