A quem possa interessar

Declaro a quem possa interessar - e também a quem não interessa - que sou CALVINISTA! Calma, não falo de Calvino, o reformista, mas de Italo Calvino, o escritor italiano e minha grande referência.
Há algum tempo que tenho lido suas obras e compulsivamente comprado tudo que é de sua autoria. Gosto muito de um livro que foi organizado pela sua esposa, Esther Calvino, intitulado Eremita em Paris: notas autobigráficas. Nesse livro há várias "entrevistas autobiográficas" feitas por Calvino para responder a solicitações diferentes (de jornalistas, de editores, etc.), além de seus apontamentos - um tanto ácidos, diga-se de passagem - sobre a temporada que passou nos Estados Unidos e sobre o povo americano em geral.

Uma dessas autobiografias - talvez a minha preferida - chama-se "Autobiografia Político Juvenil". Nesse texto Calvino aborda sua participação política desde sua juventude e reconstroi sua infância de "livre pensador", ateu, inserido em ambientes onde sua participação nos ritos religiosos era obrigatória, especialmente durante o período fascista. A mãe de Italo sempre conseguiu protegê-lo da participação obrigatória nos ritos religiosos até a advento do fascismo e da participação compulsória em associações específicas.

Ao ser poupado das missas na escola a pedido da mãe (o que era algo bastante raro pensando que viviam na Itália majoritariamente católica) Italo, que nunca se viu diferente, foi obrigado a responder à pergunta martelante de seus colegas: "Então, o que você é?" Apesar do sobrenome, não era protestante; apesar da nacionalidade, não era católico.

Mesmo sendo visto como um "bicho raro", isso nunca o incomodou, pelo contrário. Claro que o processo nem sempre foi fácil, mas foi um fator decisivo na determinação de sua personalidade:

"Em suma, muitas vezes dava por mim em situações diferentes dos demais, olhado como um bicho raro. Não acredito que isso tenha me prejudicado: nós nos acostumamos a ser teimosos em nossos hábitos, a nos encontrarmos isolados por motivos justos, a suportar o mal-estar que deriva daí, a encontrar a linha correta para manter posições que não são compartilhadas pela maioria."

"Por que um garoto não deve começar a aprender que se podem enfrentar pequenos mal-estares para manter a fé em uma idéia? E afinal quem disse que os jovens não devem ter complexos? Os complexos surgem devido a um atrito natural com a realidade que nos cerca e, quando alguém os tem, procura vencê-los. A vida é justamente essa vitória sobre os próprios complexos, sem a qual não se forma uma personalidade, um caráter."

É por essas e outro que afirmo: Italo Calvino não é desse mundo!

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