Infância feliz



Essa senhora faceira aí de cima é minha bisavó, senhora Maria Bannwart Amgarten. Viveu gloriosos 101 anos, e morreu dormindo. Foi dormir e não acordou mais. A foto acima foi feita por ocasião da comemoração dos seus 90 anos, quando eu tinha 8 anos de idade. Meus tios-avós, seus filhos, organizaram uma grande festa na fazenda para comemorar suas 9 décadas; dez anos depois, preparam outra, pra comemorar seu centenário.
A vó Maria, ou "vó da Estiva", como a chamávamos quando criança, conhecia cada um de seus netos e de seus bisnetos. Fomos abençoados com a possibilidade de um bom tempo de convívio com ela, já que todos os domingos íamos para a fazenda onde ela morava e passávamos a tarde brincando de tudo o que se possa imaginar. Fazíamos uma breve pausa para o café da tarde, que era posto numa mesa enorme e que juntava vários primos (de primeiro e de segundo grau), tios (de primeiro e de segundo graus), e de outros parentes. Depois do café, voltávamos a nos esbaldar. Ao final da tarde, nossas pernas doíam de tanto que havíamos brincado; no carro, brigávamos porque tudo se juntava: a sujeira, o cansaço a vontade de chegar em casa - e o desejo de que o próximo domingo chegasse o mais rápido possível, para que voltássemos para Fazenda Estiva, e nos arrebentássemos brincando.
A nossa bisavó e sua filha Lucila, que era solteira e que cuidava da sua mãe e de seus irmãos, também solteiros, sabiam os aniversários de toooooodo mundo. Subrepticiamente, antes de irmos embora, elas buscavam balas num cestinho de plástico azul que o tio Perseu tinha no seu escritório e forravam os nossos bolsos com as guloseimas.
Materialmente, nunca ganhamos presentes caros ou brinquedos de última geração. Espiritualmente, no entanto, ganhamos tudo o que podíamos desejar e tudo o que há de mais precioso. As nossas melhores lembranças da infância são dos domingos na casa da vó, das tardes em que, imundos, ganhávamos um banho de mangueira antes de podermos entrar em casa para um banho de verdade; ganhamos joelhos ralados e muita imaginação; ganhamos cafés com leite e uma família enorme e insubstituível.

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