Ensaio sobre a Cegueira

Reproduzo abaixo a matéria que saiu na Folha de S. Paulo (on-line) do dia 03 de outubro:

"O escritor português José Saramago, prêmio Nobel da Literatura em 1998, diminuiu hoje a importância do boicote da Federação Nacional de Cegos (NFB) dos Estados Unidos ao filme "Ensaio sobre a Cegueira", dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles.

Dirigido por Fernando Meirelles, "Ensaio Sobre a Cegueira", com Julianne Moore, é sucesso de bilheteria no Brasil e estréia nos EUA

Saramago afirmou à emissora "TSF" que os líderes da NFB se pronunciam sobre um filme que "infelizmente não puderam ver" e que julgam por comentários de terceiros.
"Isto não é uma polêmica, pois para que esta exista são necessários dois interlocutores. Neste caso, trata-se de uma associação de cegos que decide ter uma opinião sobre um filme que não viu", declarou o escritor português.

Além disso, afirmou que "a estupidez não distingue entre cegos e não cegos" e que o protesto responde a "uma manifestação de mau humor sustentada em nada".
O Nobel de Literatura afirmou que tanto o livro como a adaptação cinematográfica são perfeitamente atuais, especialmente em uma sociedade como a dos EUA.
"Ensaio sobre a cegueira" vendeu mais de meio milhão de exemplares quando foi publicado nos EUA em 1998.

A adaptação para o cinema do diretor brasileiro Fernando Meirelles relata o caos que aconteceria na sociedade se todos ficassem cegos de repente.

A NFB condenou o filme por entender que os cegos são apresentados como incompetentes e depravados
[grifo meu], além de convocar seus membros a protestarem diante das 75 salas nas quais a obra estreará hoje nos cinemas americanos."
Há cerca de um ano eu escrevi no meu antigo blog sobre a "versão para o público americano" do filme Orgulho & Preconceito, e eu havia dito que acreditava que o público norte-americano não conseguia assistir a uma obra sem ter um happy end explícito, mesmo que isso fira o espírito da obra - quem assisitir ao filme em DVD poderá conferir o final "alternativo" piegas entre Elisabeth
e Mr. Darcy.
Acho que a polêmica ao redor do filme do Meirelles vai no mesmo sentido: é um público tão míope, tão incapaz de enxergar aquilo que não é explícito, que não consegue perceber que a obra do Saramago é uma alegoria, que não se trata da incapacidade de enxergar em si, e sim de que todo o caos e desordem são causados PELO HOMEM, não pelo deficiente visual, pelo paraplégico, pelo surdo ou por alguém que possa sofrer de qualquer tipo de limitação física. A postura da NFB só contribui para reforçar a fala de Saramago de que "a estupidez não distingue entre cegos e não cegos".

Comentários

Unknown disse…
O americano padrão já é burro como uma porta (tipo Homer Simpson), imagina os que não entendem uma obra que não é do tipo deles... e apelam pra picaretagem para aparecer na mídia... lamentável...
Pois tristeza pouca é bobagem... Sempre pode ser pior, meu filho. Daí abrem espaço para polêmicas em torno de filmes como "A Última Tentação de Cristo" e coisas do tipo. Só falta começar a queimar coisas.

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