O homem de preto

Já estão se completando 10 anos da minha temporada de estudos na Alemanha. Foi tão bom e tão marcante que freqüentemente lembro-me dela com clareza e com saudade. Morei na fronteira da Alemanha com a Polônia, área que muitos brasileiros consideraram "tão longe" - talvez porque não fosse fronteira com os países mais badalados da vizinhança, como a Suíça, a França ou a Bélgica.


Minha cidade fez parte da DDR, a antiga Alemanha Oriental, e morar lá foi uma experiência única, porque pude acompanhar o processo de reconstrução físico daquele lado da Alemanha, mas especialmente o processo de construção de uma única identidade alemã que, até aquele momento, mostrava-se inóquo: a Alemanha não era mais dividida entre ocidental e oriental, mas entre "Wessies" (os alemães do ocidente) e "Ossies" (os alemães orientais). A diferença e a dificuldade de integração eram enormes e facilmente compreensíveis: não era a queda de um muro que colocaria fim às diferenças ideológicas entre as duas partes. Foram praticamente 50 anos, duas gerações, que cresceram sob sistemas políticos e ideológicos antagônicos, portanto não é de se espantar que houvesse tanta dificuldade para se reunificar.



Morei na casa do Frithjof (na foto acima) e da Silvia. De cara eles me receberam de coração aberto, puseram abaixo as formalidades alemãs e fizeram com que eu me sentisse em casa. De certa forma, e vendo Wessies e Ossies dentro de um clube de serviços da cidade, creditei ao perfil dos Ossies esse aspecto mais cordial, mais agregador, mais quente que experimentei.

Frithjof, pós-reunificação, abriu com alguns sócios a Giraffe Werbeagentur, uma agência de propaganda. É da agência deles, por exemplo, o logo da cidade de Frankfurt Oder ou das propagandas do Sparkasse. Com ele tive conversas de todo gênero e dele ganhei cds do R.E.M., banda da qual ele também gostava e da qual já havia assistido um show em Berlim. Frithjof veste-se sempre de preto.

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