Magical Classical Tour





Esse é o nome de dois concertos realizados neste último final de semana pela Orquestra de Câmara da Ulbra, cantores e solistas convidados em Porto Alegre. A proposta do concerto é muito interessante: diferentes músicos foram convidados a escrever arranjos para músicas dos Beatles com características de períodos da história da música diferentes. Dessa forma, o programa de ontem à noite começou com um arranjo medieval e outro renascentista (You've got to hide your love away e I'll be back) que ficaram muito bacanas, com um madrigal renascentista, cravista e o solo de flauta (em ambas as peças) da Lúcia Carpena, musicista ao lado (além de minha cunhada, salve-salve!).




À medida em que o programa avançava, os gêneros musicais avançam junto. Para as versões eruditas (medieval, renascentista, barroca, clássica, romântica) havia o solo de uma soprano maravilhosa, Cíntia de los Santos, e de um super tenor curitibano, Paulo Mestre. Because, cantada pelos dois, foi de encher os olhos do vivente. Falando nessas peças, o arranjo com a orquestra de uma delas tem início numa clara referência à passagem do Requiem, de Mozart, intitulada "Lacrimosa".




Os convidados do mundo da música popular também foram muito bons: Panta, Adriana Deffenti e Thedy Correa (vou me poupar de tecer comentários sobre este último...). Destaque especial para o Panta com Come Together. O cara tem um voz excepcional, encarnou o espírito da música, não se intimidou com a orquestra e levantou a platéia. Aliás, o arranjo de Iuri Correa para essa música foi um arraso: ele misturou o tema "Fortuna", da ópera Carmina Burana. Parte dela era como no original, parte com a letra dos meninos de Liverpool. E aí vinha o Panta, arrasando. Foi de levantar defunto!!!




O final do concerto foi apoteótico: Hey Jude arranjado com características de períodos diferentes da música: para cada trecho específico, um solista, entre cada passagem de estrofe outra música incidental dos Beatles, e o final com todos, inclusive o público, cantando.



Palmas para todo mundo, a orquestra volta para um bis todo instrumental (Hello, Goodbye, Magical Mistery Tour e Penny Lane) e os cantores e músicos solistas para Hey Jude. O povo foi ao delírio e pediu mais e mais: pediu Come Together, que fechou com chave de ouro a noite. Tiago Flores, o regente, teve um momento de epifania quando em 2007 vislumbrou o projeto. Foi um encontro musical espetacular.



Confesso que tenho um pouco de medo dessas "misturanças", mas abri mais os ouvidos depois que um amigo me deu uma fita com uma releitura inteira do álbum Sgt. Pepper's... como se tivesse sido gravado nos anos de 1950. Aliás, acredito que ele teria se esbaldado no concerto de ontem à noite. Mas o que a orquestra e os arranjadores fizeram foi igual à releitura, mas ao mesmo tempo diferente: se, por um lado, eles reescreveram os arranjos como ocorreu com o Sgt. Pepper's..., por outro romperam uma barreira sonora enorme (que foi respeitada pelo disco que me referi), promovendo uma volta à sonoridade muito anterior ao nascimento do rock e um encontro musical incrível e considerado por muitos impossível. Foi uma delícia!!!

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